*Texto: Eliana Teixeira
Celebrado nesta terça-feira (25), o Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha é uma data para reflexão da luta por igualdade de oportunidades, representatividade e equidade de gênero. Segundo dados de 2022 da Pnad Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população negra (pretos e pardos) inserida no mercado de trabalho corresponde a 55,8% dos brasileiros - 53,3 milhões de negros em relação a 44,9 milhões de não negros. Do total de 53, 3 milhões de brasileiros negros ocupados, 21,9 milhões são mulheres negras. Os dados mostram ainda que, dos 53, 3 milhões da população negra ocupada, 47,5% são mulheres ocupadas em trabalho desprotegido, com rendimento mensal médio de R$ 1.715 contra o rendimento médio de R$ 2.774 para mulheres não negras. Apenas 2,1% das mulheres negras ocupam cargos de direção ou gerência contra 4,7% das ocupações por mulheres não negras. Já taxa de desocupação – quem está fora do mercado de trabalho – é 13,9% para mulheres negras contra 8,9% para mulheres não negras.
“As condições socioeconômicas das mulheres negras brasileiras ainda são piores do que as dos demais grupos, colocando-as em uma situação de maior vulnerabilidade”, destaca o vereador Acácio Godoy, autor da iniciativa da homenagem em Piracicaba (SP) às empresárias Ana Paula Carvalho, Ana Marta do Nascimento Francisco, Catharina Martyns e a mim, jornalista Eliana Teixeira, indicadas pelo Coletivo Beleza Preta. Também serão homenageadas Lucia Helena Silveira, Lígia Fernandes Marques, Jeovana Cardoso de Souza, Julia Madeira e Sandra Regina da Silva.
“Não é uma data que se sobrepõe a data de 8 de março (Dia Internacional da Mulher). É um complemento que valoriza o recorte ético-racial porque a mulher negra traz questões muito específicas de uma batalha que ela enfrenta, uma batalha de resistência. Ela soma o preconceito de ser mulher em alguns espaços com preconceito de ser negra”, completa o vereador.
É inegável que há muito o que ser feito na sociedade brasileira, principalmente, por meio de medidas afirmativas que visem aumentar o nível de escolaridade, a empregabilidade para todos os níveis de formação acadêmica e profissional, bem como combater efetivamente o racismo estrutural e punir quem comete racismo. E o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha é a voz feminina da pauta reivindicativa e comemorativa. Em Piracicaba, a homenagem às empresárias e à jornalista, indicadas pelo Coletivo Beleza Preta que atua no município, acontece nesta terça-feira (25), às 19h30, na Câmara de Vereadores.
Para Ana Marta do Nascimento Francisco, receber a homenagem é de “extrema importância”, considerando a indicação do Coletivo Beleza Preta que valoriza a representatividade e ancestralidade da mulher preta em diferentes profissões. “Esta homenagem não sou apenas eu que recebo, mas acredito que cada uma de nós mulheres negras trabalhadoras, que merecemos reconhecimento. E o Coletivo Beleza Preta mostra a importância de sermos quem somos, independentes e além da profissão”, enfatiza a empresária.
Com mais de mais de 23 anos de experiência como jornalista, a idealizadora e editora da revista digital O Canal da Lili, pontuo a necessidade de a mulher preta ter uma data que paute suas reivindicações e conquistas. Precisamos ocupar os espaços públicos, as mídias digitais ou as tradicionais, para reivindicar nossos direitos, denunciar os crimes que ainda sofremos e mostrarmos nossas conquistas. Independente da tonalidade da pele preta, se é maias clara ou escura, pessoa parda por ascendência africana ou indígena, como oficialmente descrito pelo IBGE, temos que buscar mais ações afirmativas que visem a empregabilidade e a ascensão acadêmica de toda uma parcela da população que ainda não foi devidamente reparada pelo crime contra a humanidade foi a escravização dos povos africanos aportados à força em terras brasileiras. Me sinto lisonjeada, por ter sido indicada pelo Coletivo Beleza Preta para receber essa homenagem.
INSTITUIÇÃO DA DATA
O Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha foi instituída em 1992, pela ONU – Organização das Nações Unidas num encontro em Santo Domingo, na República Dominicana. O evento reuniu mais de 300 representantes de 32 países compartilhando suas vivências e debatendo soluções para a luta contra o racismo e o machismo. No Brasil, a data também é uma homenagem a Tereza de Benguela que viveu no século 18 no vale do Guaporé, e liderou um quilombo que abrigava mais de 100 pessoas, incluindo indígenas. “É importante essa homenagem porque nós mulheres negras ainda somos as principais vítimas de feminicídio e outros tipos de violência. Devemos trazer o assunto para que todos tenham essa consciência e que se gerem novos debates e soluções. E também para lembrar a memória das mulheres que vieram, lutaram e abriram caminhos a nós”, diz nota do Coletivo Beleza Preta.
CÂMARA DE PIRACICABA
A Câmara Municipal de Piracicaba realiza, nesta terça-feira (25), a partir das 19h30, reunião solene em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, por iniciativa do vereador Acácio Godoy (PP), autor do requerimento 405/2023. A celebração foi instituída na Câmara de Piracicaba a partir da aprovação do Projeto de Decreto Legislativo 1/2017, de autoria da ex-vereadora Nancy Thame (PV), e busca dar relevância ao marco internacional da luta e resistência das mulheres negras contra a opressão de gênero, racismo e desigualdade socioeconômica.
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